Agência de Desenvolvimento Industrial testa modelos de negócios para atrair investimentos em 5G

Em entrevista à Esfera Brasil, Tiago Faierstein diz que operadoras de telefonia ainda não estão investindo na tecnologia 5G por falta de modelos que gerem lucro

Empresas ainda não sabem como lucrar com a rede 5G e, por isso, não investem nessa infraestrutura, segundo Tiago Faierstein, gerente da unidade de novos negócios da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). E as operadoras de telefonia ainda não estão investindo na tecnologia 5G por falta de modelos de negócio que gerem lucro.

“As operadoras sabem que não haverá incremento de receita no modelo de negócio que elas têm hoje com o 5G. E se elas não vão ter incremento de receita, não investirão massivamente na infraestrutura do 5G, principalmente na do 5G Standalone”, diz Faierstein.

Por isso, segundo ele, a agência trabalha no desenvolvimento de modelos de negócios para que essas empresas entendam como reduzir custos e investir no 5G.

Em entrevista à Esfera Brasil, o executivo falou sobre este tema e, também, de outros projetos em que a ABDI vem trabalhando.

Esfera Brasil – Quais são os principais projetos da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial hoje?
Tiago Faierstein
 – A ABDI tem como missão trabalhar intensamente pela transformação digital do país, o que significa estimular a digitalização tanto do setor produtivo brasileiro, quanto das cidades, governos, agricultura e mesmo no setor de saúde.  Temos projetos na área de indústria 4.0 e de capacitação, temos projetos com a Polícia Federal, a Receita Federal, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e a Polícia Rodoviária Federal, para levar tecnologia e transformação digital para dentro do governo, porque ele acaba sendo uma referência para empresas.

Se a Polícia Federal, por exemplo, quer comprar tecnologia, a indústria da área de tecnologia naturalmente se desenvolverá e vai se especializar para atender a essa demanda.  Então, em linhas gerais, a ABDI tem trabalhado em testes com modelos de negócios, que combinam uso de tecnologias inovadoras, 5G e temas como ESG e economia circular.

Esfera Brasil – Você vê viabilidade para que o Brasil passe a integrar a OCDE? O governo está empenhado nisso?
Tiago Faierstein –O processo já está bem avançado, o governo já está se adequando às recomendações da OCDE. As empresas também estão cada vez mais entrando nesse mundo de transformação digital, que é o que a OCDE prega. Eu acredito que em um horizonte de tempo a curto prazo, a gente deve entrar sim. Essa agenda é muito forte e prioritária.

Esfera Brasil – Quanto ao 5G, já existe uma previsão para que o chamado 5G Stand Alone comece a funcionar pelo menos nas grandes capitais?
Tiago Faierstein – O 5G é um grande habilitador das tecnologias inovadoras. Para o setor produtivo, significará uma revolução no modelo de produção e de prestação de serviços. E não sabemos ainda quais modelos de negócios devem surgir a partir da adoção do 5G. As operadoras do 5G são empresas de telefonia, que têm como modelo de negócio vender plano de celular.

E o que é o 5G para o celular? Internet mais rápida, você vai carregar mais rápido uma rede social, mandar uma foto no WhatsApp mais rápido, baixar um filme na Netflix mais rápido etc. O que isso muda na sua vida? Absolutamente nada.

É consenso mundial que o 5G não veio para o smartphone, afinal, se você paga 100 ou 150 reais em um plano de celular de 4G por mês, você não vai pagar 200 ou 250 para ter 5G. Principalmente aquelas pessoas que têm plano pré-pago, plano controle e ainda tem aquelas pessoas que não tem nem condições de ter um celular 5G.

Então, as operadoras sabem que não haverá incremento de receita no modelo de negócio que elas têm hoje com o 5G. E se elas não vão ter incremento de receita, não investirão massivamente na infraestrutura do 5G, principalmente na do Standalone, que é mais cara, onde você vai precisar instalar muito mais antenas – 10 vezes mais do que exige o 4G. Por isso, as operadoras anunciaram o chamado 5G non-standalone, no qual se utiliza a infraestrutura do 3G e do 4G com o 5G. Então teremos uma experiência parcial do 5G nas capitais.

Esfera Brasil – E o que a ABDI faz para incentivar o investimento em infraestrutura?
Tiago Faierstein – Para que a gente provoque as operadoras a investirem nessa estrutura, temos que apresentar modelos de negócios com 5G. A ABDI atua nisso. Nós construímos, por exemplo, um projeto muito grande, de proporção internacional, envolvendo Brasil, Israel, Estados Unidos, Nokia Global e empresas israelenses, para testar um modelo de negócio nas cidades, que é a luminária inteligente com antena 5G integrada.

E também fazemos testes de aplicação de 5G na indústria porque, para colocar o 5G, a empresa precisa ter redução de custo e aumento de lucratividade. Caso contrário, não haverá investimentos em 5G. Então, a ABDI atua nesse desenho de modelos de negócios que possam testar a assertividade das aplicações em 5G e, além disso, compreender onde está o ponto de equilíbrio entre custo e benefício que gere valor para a empresa e traga vantagens de produtividade e competitividade.

Precisamos aquecer o mercado, trazer casos de uso, fomentar novos modelos de infraestrutura de investimento em antena, colocando modelos público-privados também para ajudar a reduzir o investimento das operadoras. É assim que a gente está trabalhando para que o 5G se difunda muito mais rápido no Brasil.

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