‘Sou um sapateiro desde criança, e essa é a minha paixão’

A trajetória estrelada de Alexandre Birman que resultou na nova holding Azzas 2154, maior grupo de moda da América Latina

Por Lígia Mesquita

Em dezembro de 2023, quando Alexandre Birman, 47, recebeu o telefonema da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos lhe informando de que seria Person of the Year 2024, nem ele nem a entidade sabiam ainda que o empresário iria criar o maior grupo de moda da América Latina. O prêmio, que existe há 52 anos, homenageia todos os anos duas personalidades com destaque no setor de comércio: uma brasileira e outra estadunidense.

Dois meses depois, no início de fevereiro, o CEO da Arezzo&Co assinava a fusão da empresa com o Grupo Soma, dono de marcas como Hering, Farm, Cris Barros, Animale, entre outras. Dessa junção, nasceu a holding batizada de “Azzas 2154” — o número é referência a um lema interno da Arezzo, o “rumo a 2154”, data em que serão celebrados os 200 anos de Anderson Birman, fundador da marca e pai de Alexandre. A fusão fará com que o novo grupo tenha um faturamento anual estimado em R$ 12 bilhões, além de dois mil pontos comerciais espalhados pelo País, entre franquias e lojas próprias.

À Revista Esfera, Birman assegura que, sob a nova holding, as 34 marcas do negócio não perderão suas identidades nem a qualidade. Pelo contrário: “Nosso principal objetivo é fortalecer a identidade de cada uma delas, aprimorar a qualidade e a experiência do cliente. Nossos esforços estão em criar um novo capítulo para a moda brasileira, valorizar o talento, a criatividade e a identidade do nosso país.”

Mesmo estando à frente de um negócio bilionário, Birman faz questão de lembrar que, antes de ser empresário, é sapateiro. “Nunca tive dúvida de que seguiria esse caminho na minha vida, vai muito além de uma profissão. É um propósito maior. Meu pai, Anderson, é minha grande inspiração, meu mentor, fundador da Arezzo, com quem aprendi os valores e ensinamentos essenciais na vida”, diz. “Eu sou sapateiro desde que nasci e desejava seguir os passos do meu pai, honrando seu legado”, acrescenta. 

Seu pai e seu tio Jefferson fundaram a Arezzo em 1972, em Belo Horizonte, Minas Gerais, com foco, primeiro, em calçados masculinos e, depois, femininos. Ele conta que aos 12 anos fez seu primeiro par de sapatos numa jornada iniciada na garagem da fábrica da Arezzo na capital mineira, cidade em que nasceu e cresceu. Depois, foi estudar na Itália para aprimorar o conhecimento, o design e aprender sobre a matéria-prima dos calçados italianos. “Não me tornei sapateiro. Na verdade, nasci com essa vocação e com o DNA empreendedor”, acredita. “Aos 18 anos, fundei a Schutz, que se tornou a nossa primeira marca a conquistar o mercado internacional e foi a base para a criação da Arezzo&Co, em 2007”, lembra.

Além da Schutz, ele criou a grife de sapatos de luxo que leva seu nome. Suas criações femininas lhe renderam prêmios internacionais — como o Top 10 Designers de 2012, da Footwear News, e o de designer do ano de 2017, da Fashion Footwear Association of NY (FFANY) — e foram parar no pé de estrelas, como Beyoncé, Anne Hathaway, Jennifer Lawrence, Julia Roberts e Lupita Nyong’o. 

Birman diz que o trabalho criativo e a satisfação em ver as pessoas usando algo que ele criou são até hoje incomparáveis e lhe proporcionam um sentimento único. Por conta da dimensão do negócio que comanda, ele diz que não consegue mais acompanhar todas as coleções, mas segue envolvido diretamente com o processo criativo, a estratégia e a visão de negócio das marcas. “Semanalmente, estou em Campo Bom [no Rio Grande do Sul], na fábrica, acompanhando o processo de criação, desenvolvimento de produto e os times de merchandising.”

A influência do pai

Em 2007, Birman uniu sua empresa, a Schutz, com a de seu pai, formando a Arezzo&Co. No mesmo ano, eles venderam 25% das ações para o grupo de investimento Tarpon, visando abrir o capital da empresa — o que fizeram quatro anos depois. Em 2013, ele assumiu a presidência do grupo e teve como uma de suas marcas nos anos seguintes a transformação digital do negócio e a expansão internacional.

Em 2020, o empresário decidiu entrar na área de vestuário e lifestyle, adquirindo a marca Reserva. Hoje, o grupo possui, além de Arezzo, Schutz e Alexandre Birman, as marcas Anacapri, Alme, Reserva, Carol Bassi, Vans, Oficina Reserva, Reserva Go, Simples, Reversa, Reserva Ink, Reserva Mini, BAW Clothing, TROC, Vicenza e a italiana Paris Texas, além do marketplace ZZ MALL.

“Acredito que nada acontece por acaso, e todas as experiências e esforços contribuíram para minha trajetória como sapateiro e executivo. Hoje, olhando a minha história e o que construímos com as nossas marcas, entendo que toda a minha vivência na infância e adolescência com o meu pai nas fábricas da Arezzo foram fundamentais para a construção da companhia e do futuro”, avalia. 

Dos cinco filhos de Anderson, apenas Alexandre seguiu os rumos do pai. De acordo com ele, houve conversas em família para discutir o legado de Anderson e quais seriam os próximos passos, mas os irmãos optaram por “deixar a marca no mundo de outra forma”. “Cada um de nós encontrou sua própria paixão e vocação, mas compartilhamos o amor pela criação dos sapatos. Eu e meus irmãos admiramos profundamente a trajetória do nosso pai, idealizador do que é hoje a maior house of brands de moda da América Latina e maior plataforma fashion do varejo nacional”, relata Alexandre. 

Birman conta que aprendeu muito com o pai sobre governança, gestão da companhia e de pessoas. “Tenho o maior orgulho de onde chegamos e tenho certeza de que, com esta força, seguiremos rumo a 2154, o mantra da longevidade criado por Anderson que se traduz em nosso compromisso diário em levar a companhia ao futuro, com crescimento contínuo. Ele diz que não estará mais aqui, mas a companhia estará. É com esse legado e pensamento de longo prazo que exercemos nosso propósito ao longo dos anos.”

Decisões importantes

Ao longo de sua trajetória como executivo, Birman destaca alguns momentos que foram decisivos para transformar a Arezzo&Co numa potência. A abertura de capital da empresa foi um divisor de águas para o desenvolvimento da governança, segundo ele. 

“Outro momento decisivo foi a estratégia que colocamos em prática na pandemia, um movimento catalisador que rompeu barreiras e desencadeou um novo ritmo na companhia. Nossa primeira aquisição de marca, a Reserva, em 2020, veio abrir novas avenidas de crescimento”, afirma. Para manter o DNA brasileiro da companhia, Birman diz que é necessário valorizar a nossa cultura, a criatividade, o design e tudo que o Brasil tem de melhor. “É essa identidade que faz o Brasil ser sucesso lá fora. Para mim, é uma honra representar o nosso país lá fora. Acredito que a Azzas 2154 pode ser uma importante vitrine do potencial brasileiro no mundo. Temos que dar luz e protagonismo para o talento brasileiro, criar o orgulho de ser brasileiro aqui e para além das fronteiras.”

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