Ponto de equilíbrio

Em balanço sobre a vice-presidência da Câmara, Marcos Pereira quer manutenção de prerrogativas conquistadas pelo Congresso nos últimos anos

Por Luís Filipe Pereira

Presidente do Republicanos e um dos grandes nomes da política nacional, o deputado federal Marcos Pereira prevê um Legislativo cada vez mais forte e independente nos próximos anos. Com papel-chave na articulação que lançou a candidatura vitoriosa do parlamentar Hugo Motta à presidência da Câmara dos Deputados, ele lamenta a escassez de vozes moderadas no debate político e vê o cenário nacional cada vez mais polarizado.

“Ocupei a vice-presidência [da Câmara] duas vezes nestes meus dois mandatos. Creio que isso já seja um feito histórico que reflete a minha postura e a do meu partido, direcionada ao diálogo e às convergências”, afirma ao recordar dos últimos quatro anos, período em que consolidou seu papel de liderança entre os parlamentares. 

O Republicanos, sigla que dirige, vive uma circunstância muito particular no tabuleiro da política brasileira, o que deve alçar Marcos Pereira como uma das forças a serem consideradas à medida que o ano eleitoral de 2026 se aproxima e as conversas sobre alianças políticas se intensificam. De um lado, a legenda tem como principal quadro político o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, uma das grandes figuras da direita nos últimos anos; de outro, ela integra a equipe ministerial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Silvio Costa Filho, que responde pela pasta de Portos e Aeroportos.  

Em entrevista à Revista Esfera, Pereira afirmou esperar que o novo presidente da Câmara se coloque firmemente na defesa dos interesses dos parlamentares, sem abrir mão da capacidade de alimentar o diálogo propositivo com os outros Poderes.

Depois de um primeiro ano em que o governo garantiu a aprovação de temas importantes, como a nova regra fiscal e a promulgação da reforma tributária pelo Congresso, 2024 foi marcado por ruídos nessa aproximação. De que forma o diálogo entre Legislativo e governo pode ser melhorado?

Penso que o Congresso Nacional tem cumprido seu papel constitucional de trabalhar de forma independente, porém harmoniosa, na aprovação das pautas importantes para o País. Em tudo aquilo que foi benéfico para melhorar a vida das pessoas, nós fomos favoráveis. Ocorre que a comunicação truncada, ou a falta dela, e medidas atabalhoadas, como as mudanças na regra do Pix, acabam por atrapalhar a construção de uma agenda comum propositiva. 

A Câmara dos Deputados reúne 513 deputados, muitos deles de perfis diferentes e que representam as mais variadas camadas da população brasileira. Qual balanço o senhor faz do período em que esteve na vice-presidência? 

Ocupei a vice-presidência duas vezes nestes meus dois mandatos. Creio que isso já seja um feito histórico que reflete a minha postura e a do meu partido, o Republicanos, direcionada ao diálogo e às convergências. A Câmara dos Deputados é uma Casa plural que de fato reúne perfis variados representativos da sociedade brasileira. Meu papel foi representar institucionalmente o Poder Legislativo e assegurar que as prerrogativas dos congressistas estivessem protegidas. Hoje, em verdade, temos uma Câmara mais forte, mais independente, e estou certo de que ela se fortalecerá ainda mais como a Casa de ressonância da vontade popular.

Entre segurança pública, transição energética e agenda econômica, quais pautas ou projetos o senhor crê que devem ganhar espaço ao longo da gestão de Hugo Motta? 

Acredito que a pauta econômica deve se sobressair das demais pautas. O País vive um momento sensível, com uma inflação persistente, e, consequentemente, com a perda do poder de compra do cidadão. Temos que direcionar todas as forças para solucionar esse problema. Obviamente que o governo precisa saber que caminho tomar, quais medidas apresentar. Minha sensação é a de que o governo Lula está sem um plano. 

Nos últimos anos, o Colégio de Líderes ganhou bastante espaço e se fortaleceu como mecanismo de deliberação entre os parlamentares, com a presidência da Câmara ganhando importância na construção de consenso. O senhor acredita que ele seguirá fortalecido?

Não tenha dúvida de que quando as forças políticas atuam de forma coordenada, com o objetivo de se alcançar consensos na medida do possível, quem ganha é o Poder Legislativo como um todo. Hugo Motta é um parlamentar experiente, bem-relacionado, e estou certo de que ele fortalecerá todo mecanismo que possa colaborar com a construção das pautas da Câmara. 

Pelo que o senhor conhece do deputado Hugo Motta, o que podemos esperar da relação do Legislativo com os outros poderes nos próximos dois anos?

Por óbvio que Hugo terá como premissa um Poder Legislativo forte, independente, mas fundamentado nas bases do diálogo e da construção propositiva com os demais poderes. No entanto, as prerrogativas da Câmara precisam ser respeitadas e amplamente defendidas.

Dado o contexto das reformas recentes (trabalhista e tributária), o senhor crê em uma agenda reformista no topo das prioridades do Congresso nos próximos anos?

As reformas mais urgentes foram realizadas. Talvez não do modo ideal, mas de um jeito possível. Um grande avanço para o País talvez pudesse ser uma reforma administrativa. Mas essa é uma pauta afeita ao governo. 

Como o senhor avalia um eventual aumento no número de cadeiras de deputados, dos atuais 513, para 531, com a criação de 18 novas vagas?

Trata-se de uma demanda provocada pelo STF, tendo em vista a readequação da representatividade em estados menos populosos. Obviamente que é um assunto polêmico. Algumas bancadas, em alguns estados, poderão ser reduzidas. E isso já desperta a atenção e a movimentação de muitos deputados. Ocorre que, se a Câmara não fizer nada até a data estipulada, o STF poderá agir de ofício, o que, na minha opinião, não é o ideal.

Quais são as principais lideranças do universo político brasileiro atualmente? O senhor crê que o cenário seguirá polarizado nos próximos anos?É difícil imaginar que possamos encontrar uma liderança de centro, de consenso. Infelizmente, os opostos se retroalimentam um do outro. O ambiente político permanece sempre muito tenso, com ações e reações que se contrariam, impedindo que possamos nos deter aos pontos de convergência. Portanto, não tenho dúvida de que o cenário estará cada vez mais polarizado. Não há espaço, hoje, para uma voz moderada.

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