Olimpíada além do esporte

Estudo avalia de que forma evento pode impactar região parisiense pelos próximos anos

Por Renan Tolentino

Quando a tocha olímpica chegar a Paris no dia 26 de julho e a pira for acesa, terão início oficialmente os Jogos Olímpicos de 2024 e as disputas pelo lugar mais alto do pódio. Um total de 10.500 atletas, representando 206 países, disputarão as medalhas de ouro, prata e bronze em 48 modalidades diferentes.

Mas um evento da magnitude da Olimpíada vai além do esporte. Também mexe com diversos aspectos dos países que estão participando e, principalmente, do país-sede. Economia e política, por exemplo, entram em quadra, e o resultado é definido por uma série de fatores.

Impacto econômico

Foi divulgado, em maio deste ano, um estudo que projeta o impacto econômico dos Jogos nos próximos anos na região de Île-de-France, onde Paris está localizada. A pesquisa foi feita pelo Centro de Direito e Economia do Esporte (CDES, na sigla em francês), a pedido do Comitê Organizador local e do Comitê Olímpico Internacional (COI). Um dos objetivos era atualizar um estudo anterior, feito em 2016, durante a fase de candidatura.

Os números atuais apontam três cenários mais prováveis, todos com uma projeção de 17 anos (considerando a janela entre 2018 e 2034).

No melhor deles, a Olimpíada vai movimentar um total de € 11 bilhões (R$ 63,25 bilhões) na região parisiense — o que poderia resultar em um impacto de quase três para um: 3 euros gerados para cada 1 euro gasto. Já no resultado intermediário, e mais provável, seriam € 8,9 bilhões (R$ 51 bilhões). No cenário menos otimista, € 6,7 bilhões (R$ 38,5 bilhões).

O economista do esporte Christophe Lepetit, responsável pelos estudos do CDES, reforça que os valores apontados na pesquisa não se referem necessariamente à rentabilidade que a Olimpíada poderá gerar, mas à “injeção líquida de renda na economia de uma determinada área” — neste caso, na região metropolitana de Paris. O objetivo também é fazer uma comparação com a atividade econômica local em um cenário sem aquele evento.

“Um estudo de impacto econômico não é um estudo de rentabilidade. Ele não avalia os benefícios econômicos para a região anfitriã, mas sim a atividade econômica adicional gerada pela realização do evento em comparação com uma situação sem o evento. Um estudo de impacto econômico analisa essencialmente onde a despesa ocorre e como ela é financiada. Portanto, o impacto econômico mede a injeção líquida de renda na economia de uma determinada área. Se quiséssemos avaliar a rentabilidade dos Jogos, teríamos que levar em conta todos os benefícios e custos, não apenas econômicos, mas também sociais e ambientais”, explica Lepetit.

O levantamento do CDES também apontou as áreas da economia local que podem ser mais impactadas positivamente. No primeiro lugar do pódio, ficou o setor de organização de eventos (€ 3,8 bilhões), enquanto a prata foi para a construção civil (€ 2,5 bilhões), e o bronze para o setor de turismo (€ 2,6 bilhões). Dados que também consideram a janela de 17 anos e as diferentes fases do projeto, entre 2018 e 2034.

“Foi, portanto, esse trabalho que nos propusemos a atualizar e que nos permitiu reavaliar o impacto econômico para a região de Île-de-France num intervalo entre € 6,7 bilhões e € 11,1 bilhões correntes, com um valor central de € 9 bilhões”, acrescenta o economista.

Política também em jogo

Indo além da frieza dos números e valores financeiros, Christophe Lepetit entende que um evento de mobilização mundial, como é o caso da Olimpíada, pode ter um peso no campo político, que costuma ser mais efervescente e sensível a diversos fatores. O responsável pelos estudos econômicos do CDES reforça a visão a respeito da natureza política dos Jogos, que pode impactar não apenas o cenário local ou nacional, mas também global.

“Ao contrário do que alguns políticos querem nos fazer acreditar, o esporte e os Jogos são eminentemente políticos. De fato, muitas vezes eles foram explorados por determinados regimes, como em 1936 [na Alemanha], durante a Guerra Fria, e, mais recentemente, em 2008, pela China. Durante os Jogos, os países anfitriões procuram demonstrar sua grandeza e sua capacidade de realizar um evento de alta qualidade em termos de organização. Isso pode explicar alguns dos deslizes orçamentários dos quais Paris 2024 foi relativamente poupada”, avalia.

Lepetit acrescenta ainda que se trata de um momento em que o bom desempenho dos atletas e uma posição favorável no quadro de medalhas podem ser usados pelos países para mostrar força no cenário geopolítico internacional.

“Os Jogos têm uma dimensão geopolítica real. Em uma competição entre países, às vezes temos que mostrar que nossas democracias continuam atraentes e competitivas ou, ao contrário, que os países estão em processo de transformação política para se tornarem mais modernos e melhorarem sua imagem de marca. E, é claro, alguns países usam as classificações de medalhas para afirmar sua grandeza e poder. Londres e o Reino Unido fizeram isso em 2012, assim como os Estados Unidos, a Rússia e outros países”, afirma o especialista.

Com relação ao cenário político local, ele acredita que a influência da Olimpíada vai depender de como será o desempenho da organização do evento e de seu legado. Um ponto positivo seria o controle no orçamento para a realização dos Jogos de Paris, que está avaliado atualmente em € 4,4 bilhões.

No Brasil

Do lado verde e amarelo da Olimpíada, a expectativa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é que, em Paris, o Brasil supere sua melhor participação na história dos Jogos, que ocorreu justamente na última edição, em Tóquio. O País terminou em 12° lugar, com 21 medalhas, sendo sete de ouro, seis de prata e oito de bronze. Caso a meta seja alcançada, é possível que o Time Brasil supere outra marca particular: ficar no top 10 do quadro de medalhas pela primeira vez na história.

Mas o bom desempenho nos Jogos, tanto Olímpicos quanto Paralímpicos, pode trazer benefícios além das medalhas para o Brasil. Na avaliação do Ministro do Esporte, André Fufuca, a exposição dos atletas brasileiros na “maior vitrine do esporte mundial” pode atrair investimentos tanto em quem compete quanto para o País.

“São vários os ganhos econômicos que a participação do Brasil nos Jogos Olímpicos pode trazer. As Olimpíadas atraem patrocinadores para os atletas e para o esporte brasileiro em geral. As empresas brasileiras ganham exposição internacional promovendo produtos e serviços brasileiros no exterior. A enorme exposição dos Jogos também deve aumentar o consumo interno de produtos relacionados ao esporte, como roupas e equipamentos, e também de serviços, como academia e aulas de esportes”, pontua Fufuca.

Para além dos Jogos Olímpicos, o ministro lembra ainda da seleção brasileira de futebol como um dos maiores divulgadores da nossa cultura pelo mundo. Vale lembrar, no entanto, que o Brasil não conseguiu garantir vaga na modalidade em Paris 2024, mesmo após os ouros na Rio 2016 e na Tóquio 2021.

Coincidência ou não, no ano em que busca superar a própria marca olímpica, o Brasil bateu outro recorde particular também no âmbito esportivo. Como forma de apoiar o esporte nacional, o Ministério do Esporte divulgou no mês de maio o montante de quase R$ 150 milhões para o Bolsa Atleta, destinados a um total de 8.716 beneficiados, o maior número de contemplados da história do programa, segundo a pasta.

“O objetivo do Bolsa Atleta é garantir que os atletas brasileiros tenham condições mínimas para que se dediquem, com exclusividade e tranquilidade, ao treinamento e a competições locais, sul-americanas, pan-americanas, mundiais, olímpicas e paralímpicas. O recorde de contemplados é resultado de um trabalho do Ministério do Esporte, seguindo orientação do presidente Lula, para desenvolver o esporte brasileiro e ampliar o alcance do programa. Nesta gestão, o Bolsa Atleta passou a contemplar atletas surdos, gestantes e puérperas, além de guias e auxiliares do esporte paralímpico. Tudo isso para tornar o programa cada vez mais robusto e inclusivo”, situa Fufuca.

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