- Economia
- dez | 2025
- Redação
Os EUA e os desafios globais gerados pela Nova Política Internacional
Medidas afetam economia e pode comprometer crescimento global
A política de tarifas elevadas adotada pelos Estados Unidos voltou a ser tema central nas discussões sobre economia internacional, com efeitos já perceptíveis em países de média e baixa renda. A estratégia de Washington — que busca reindustrializar o país e incentivar o retorno de fábricas americanas que operam no exterior, especialmente na China — tem provocado uma série de barreiras comerciais que vão além das exportações. Esse efeito causal é, com certeza, diferente em cada país em que a tarifa está sendo destinada e muito mais severo em países que dependem de exportação e se qualificam como países de renda média ou baixa.
É apontado que essas medidas afetam diretamente o desempenho econômico de diversas nações, dificultando o acesso a mercados e insumos essenciais. O impacto, segundo analistas, pode comprometer o crescimento global, já que muitos países dependem do comércio com os Estados Unidos para impulsionar suas economias. Países que utilizam do processo de substituição de importações, ou similar — como o caso brasileiro —, passam a ter problemas graves na sua balança de pagamento, uma vez que os EUA representam uma parcela significativa, como destinatário, das exportações mundiais.
No contexto interno dos Estados Unidos, a adoção de tarifas elevadas tem influenciado diretamente os rumos das políticas econômicas do país. Por um lado, o governo americano busca fortalecer setores industriais estratégicos, promovendo políticas de incentivo à produção nacional e à geração de empregos. Essa orientação tem levado à formulação de políticas voltadas para a reindustrialização, inovação tecnológica e proteção de mercados internos. Por outro lado, as tarifas elevadas também geram desafios, como o aumento dos custos de insumos importados, pressão inflacionária e possíveis retaliações comerciais por parte de parceiros internacionais. Esses fatores obrigam os formuladores de políticas econômicas americanas a equilibrar os interesses de diferentes setores, considerando tanto os benefícios da proteção industrial quanto os riscos de isolamento comercial e impactos negativos sobre consumidores e empresas dependentes de cadeias globais de suprimentos.
Além disso, a dependência dos Estados Unidos da manufatura chinesa permanece evidente, como demonstram as frequentes renegociações de tarifas entre Washington e Pequim. A dependência americana com relação aos produtos manufaturados da China passou a se tornar cada vez mais transparente, em especial com relação à tecnologia, uma vez que hoje a China concentra mais de 34% da manufatura mundial e que esta soma, sozinha, é mais do que o montante dos 10 maiores países manufatureiros — excluindo a própria China. Esse cenário pressiona os EUA a repensar suas políticas de inovação, competitividade e segurança econômica, levando à adoção de medidas que visam diversificar fornecedores, investir em pesquisa e desenvolvimento, e fortalecer parcerias estratégicas com outros países.
A situação revela um dilema para a economia global: ao tentar fortalecer sua indústria interna, os Estados Unidos acabam gerando incertezas e desafios para parceiros comerciais, especialmente aqueles com menor poder de negociação. Observadores internacionais alertam para a necessidade de diálogo e cooperação, a fim de evitar que as disputas tarifárias comprometam o desenvolvimento de países mais vulneráveis e o equilíbrio do comércio mundial. Ao mesmo tempo, internamente, os rumos das políticas econômicas dos EUA são cada vez mais influenciados pela necessidade de conciliar objetivos de crescimento industrial, estabilidade macroeconômica e liderança global, em um ambiente marcado por tensões comerciais e rápidas transformações tecnológicas.
João Gabriel de Araujo Oliveira é professor de Economia no Ibmec-DF, professor visitante no Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Estadual de Londrina, e consultor macro do Banco Mundial. As opiniões expressas neste artigo não representam, necessariamente, as das instituições nas quais João Gabriel atua.