Com força das renováveis, Brasil pode liderar economia verde 

Setor de mobilidade prevê investimentos a partir do fortalecimento de políticas públicas

Por Luís Filipe Pereira 

Privilegiado por um território com grande oferta de elementos como água, vento e incidência solar, o Brasil é uma das poucas nações que teriam condições de zerar as emissões de carbono até o ano de 2050, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris. Considerada uma das pautas centrais do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva desde a campanha eleitoral, a transição energética é tratada com transversalidade na atual gestão. 

A discussão vai além da geração de energia e passa pelo contexto de cidades inteligentes e mobilidade urbana, por exemplo, que podem influenciar diretamente a emissão de poluentes. Debates sobre o tema têm permeado reuniões de ministérios como Cidades, Meio Ambiente e Minas e Energia. Divulgados pela pasta de Alexandre Silveira, dados da Resenha Energética de 2023 apontam que fontes renováveis correspondem a 47,4% da oferta de energia. Neste eixo, a eletricidade originária de fontes hídricas ocupa o primeiro lugar da lista, com 12,5% da disponibilidade total.

Responsáveis por grande parte da emissão dos gases de efeito estufa (GEEs), fontes não renováveis sustentam a geração de energia de grande parte dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que chancela o Brasil como um player importante. No entanto, a consolidação de políticas públicas se torna um desafio, pela necessidade de agrupar interesses da sociedade, da classe empresarial e também das entidades ambientais. É esperado que os debates sejam ampliados no próximo ano, durante a realização da 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), quando a comunidade internacional estará reunida em Belém, no Pará. 

Mobilidade 

Biocombustíveis são aliados estratégicos na redução da emissão de gases de efeito estufa nos próximos anos. Pesquisa recente divulgada pelo Acordo de Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCB), formado por mais de 20 instituições e empresas, como montadoras e indústrias de autopeças, destaca a necessidade de fortalecer o arcabouço de políticas públicas que estimulem a geração de emprego no setor. A pesquisa projeta que veículos híbridos têm maior potencial de impacto positivo em comparação com os 100% elétricos, que demandam um volume menor de partes e peças a serem produzidas em toda a cadeia.

Na comparação com outros países, o Brasil tem vantagens competitivas. De acordo com Evandro Gussi, CEO e presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) e membro do Conselho do MBCB, o advento dos veículos flex representou mais de R$ 110 bilhões em economia para os motoristas, que passaram a ter a opção de escolher entre dois combustíveis. “O Brasil tem vocação para ocupar a vanguarda da descarbonização mundial, algo que já vem acontecendo desde a década de 1970 com a criação do Proálcool [Programa Nacional do Álcool]. Para continuar nessa trilha, basta combinar esforços e investimentos em tecnologia, produção própria e capacitação de pessoas, garantindo empregos e gerando renda”, disse durante o Seminário Esfera Brasil & MBCB: Os Caminhos para a Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil.

“Nós estamos gerando tributo, gerando empregos. O mundo do ‘ou’ — ou vai fazer redução de emissão, ou fazer crescer a economia — no Brasil não existe. Aqui é o mundo do ‘e’: uma coisa com a outra. E isso é fundamental. Esse modelo é replicável para os países mais vulneráveis do mundo. É replicável na África, na Ásia e na América Latina. É um momento histórico, porque estamos vivendo um setor completamente unido. Toda a cadeia de mobilidade está representada”, acrescentou Gussi na ocasião.

Veículos pesados

Com foco em rotas tecnológicas mais eficientes do ponto de vista econômico e ambiental, a pesquisa também aponta para o biometano e o hidrogênio-elétrico com célula de combustível como alternativas viáveis para veículos pesados. Intitulado Trajetórias Tecnológicas mais Eficientes para a Descarbonização da Mobilidade, o estudo sugere que a utilização de baterias recarregáveis é a possibilidade mais indicada para veículos pesados que trafegam em trechos urbanos. A pesquisa destaca que esse tipo de veículo corresponde a 6% da frota e é responsável por 57% das emissões de GEEs, daí a importância de haver políticas públicas convergentes.

“É necessário incentivar e acelerar a introdução de tecnologias alternativas — como veículos elétricos à bateria para caminhões leves/médios que percorrem curtas distâncias e motores movidos a biodiesel, gás ou hidrogênio de baixa emissão para caminhões mais pesados. Diante desse cenário, políticas públicas direcionadas à renovação da frota e à promoção de tecnologias mais limpas são essenciais para mitigar os impactos ambientais do setor de transporte”, explica trecho do estudo.

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Matriz elétrica

O Brasil ultrapassou a marca de 200 gigawatts (GW) de geração em sua matriz elétrica no mês de março. De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 84,25% desse total é proveniente de fontes renováveis, e 15,75% de fontes não renováveis, sendo 1% obtido a partir de geração nuclear. A nova marca foi alcançada após despacho que autorizou o início da operação da usina fotovoltaica Boa Sorte I, localizada em Paracatu, Minas Gerais, com 44,1 megawatts (MW) de potência. Ainda segundo a Aneel, as três maiores fontes renováveis que compõem a matriz de energia elétrica brasileira são hídrica (55%), eólica (14,8%) e biomassa (8,4%). 

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Biomassa gera biogás

De acordo com a Aneel, a biomassa está entre as três principais fontes de energia renováveis que compõem a matriz elétrica brasileira. Ela utiliza elementos orgânicos para geração de energia e, da decomposição desses elementos, surge o biogás. Com a tramitação do projeto de lei do combustível do futuro, a tendência é que o setor se fortaleça. “Todo aquele vegetal que absorveu carbono, quando ele apodrece ou se decompõe, vira biogás. A gente faz isso de maneira controlada e em escala. Bactérias que geraram hidrocarboneto fóssil, a gente faz gerar hidrocarboneto renovável. Com a escala que a gente tem, é possível fazer isso no Brasil inteiro”, garantiu o presidente da Abiogás, Alessandro Gardemann, no Seminário Esfera Brasil & MBCB: Os Caminhos para a Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil.

*Infográfico*

Oferta interna de energia em 2022

Fontes não renováveis: 52,6% 

Petróleo: 35,7%

Gás natural: 10,5%

Carvão mineral: 4,6%

Urânio: 1,3%

Outras: 0,6%

Fontes renováveis: 47,4%

Hidráulica: 12,5%

Lenha e carvão vegetal: 9%

Derivados da cana-de-açúcar: 15,4%

Outras: 10,5%

Fonte: Resenha Energética 2023

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