• jul | 2025
  • Redação

A hora e a vez da diplomacia comercial

Camila Funaro Camargo Dantas

Nos ciclos da história econômica, tarifas já foram armas silenciosas de dissuasão, instrumentos de barganha e catalisadores de rupturas. Quando ressurgem com a intensidade da atual medida norte-americana contra o Brasil, sinalizam que o comércio internacional voltou a ser instrumentalizado em disputas geopolíticas.

Mais do que um embate tarifário, trata-se de um teste à capacidade do Brasil de reposicionar-se no tabuleiro global com maturidade e assertividade. Não há espaço para hesitação quando estão em jogo cadeias produtivas bilaterais, empregos qualificados e a credibilidade da inserção comercial do país.

Estimativas oficiais indicam que cerca de US$ 20 bilhões em exportações — com destaque para soja, carne, aço, celulose e aeronaves da Embraer, nossa principal fabricante de bens de alto valor agregado — podem ser impactadas pela nova alíquota. O aumento de custos, o enfraquecimento dos fluxos logísticos e a instabilidade regulatória comprometem a previsibilidade dos investimentos.

Casos internacionais oferecem lições úteis. Em 2018, diante de medidas semelhantes, a Índia combinou retaliação pontual com diplomacia econômica. O México, respaldado por acordos estratégicos com Estados Unidos, União Europeia e Ásia, preservou o fluxo de capitais. A Coreia do Sul, confrontada com tarifas globais sobre o aço, evitou confrontos diretos e negociou cotas específicas, garantindo acesso preferencial.

Enquanto isso, outros países seguem em movimento. A Índia reduz impostos corporativos. A Polônia transforma zonas industriais em polos exportadores. A Indonésia simplifica licenciamentos para atrair empresas multinacionais.

O Brasil não pode permanecer estático. O acordo Mercosul–União Europeia, negociado há mais de duas décadas, permanece sem implementação — não por omissão brasileira, mas por resistência política dentro do bloco europeu. O presidente Lula esteve pessoalmente na França para sensibilizar seu homólogo. Agora, é hora de intensificar o diálogo e sacramentar o entendimento. Nenhum discurso substitui os efeitos concretos de um acordo comercial bem executado.

Ser alvo de tarifas injustas e abusivas deveria conferir ao Brasil um senso de urgência renovado: é hora de substituir o discurso político por uma agenda consistente de comércio exterior nas relações internacionais. A adesão à OCDE deve ser retomada com clareza estratégica, sem que isso exclua a busca simultânea por acordos bilaterais. O ingresso no bloco fortaleceria padrões regulatórios, elevaria a previsibilidade institucional e atrairia investimentos qualificados.

Nossa diplomacia, reconhecida por sua habilidade técnica, segue sendo um ativo valioso. Mas, em tempos de instabilidade global, é preciso priorizar resultados econômicos. Há momentos para a simbologia política. Este não é um deles. Agora, o país precisa desinterditar caminhos virtuosos que ficaram paralisados por disputas ideológicas ou inércia administrativa.

Essa resposta não deve vir apenas do governo federal. Governadores, empresários e lideranças do setor produtivo devem atuar juntos. O diálogo é indispensável. A Esfera Brasil e a Casa ParlaMento já se mobilizam para articular soluções institucionais e defender os interesses do setor privado.

No plano interno, reformas horizontais precisam ser acompanhadas de medidas cirúrgicas. Além da simplificação tributária e da modernização aduaneira, o Brasil pode instituir Zonas de Interesse Produtivo. São corredores logísticos com despacho acelerado, tributação competitiva e marcos regulatórios modernos.

Há bons exemplos no exterior. Bac Ninh, no Vietnã, foi estruturada em torno dos investimentos da Samsung e tornou-se polo eletrônico de exportação. As freeports britânicas e as zonas especiais da Hungria e Marrocos também ilustram o potencial desses enclaves para atrair capital, tecnologia e empregos.

Diversificar é imperativo. Preservar um canal fluido com Washington, também. Se bem gerida, a crise tarifária poderá converter-se em alavanca para uma inserção internacional mais robusta e resiliente.

Pragmatismo, celeridade e coordenação institucional serão decisivos. O Brasil não pode apenas reagir ao que vem de fora. Precisa antecipar movimentos e ocupar, com confiança, o lugar que lhe cabe na nova geografia do comércio global.

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