“A boa política começa no Orçamento, não na propaganda.” A frase, proferida por Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, sintetiza o tom dos debates do segundo dia do Fórum Esfera 2025: uma convocação à responsabilidade fiscal como alicerce da credibilidade institucional.
“Este é um desses raros momentos em que o País precisa escolher entre adiar o inevitável ou enfrentar o inadiável. […] O brasileiro já apertou demais o cinto. Não é razoável que o Estado siga aumentando a própria barriga”, afirmou Motta.
A convergência de especialistas, autoridades dos Três Poderes e lideranças empresariais expôs o ponto de inflexão ao qual o Brasil se encontra neste momento de sua história. Ao longo de cinco painéis e dois discursos, o evento deste sábado provocou análises relevantes sobre temas centrais da agenda nacional – da responsabilidade fiscal à transição energética, da inovação em saúde e educação à transformação digital, da agenda legislativa à reestruturação da segurança pública. E todos puderam refletir sobre o movimento lançado pelo presidente do Conselho da Esfera Brasil, João Camargo, na abertura da plenária: #EssaContaÉNossa.

Agenda de reformas
O presidente Hugo Motta assumiu compromisso de avançar com o corte de isenções fiscais que trazem pouco retorno ao País e com a reforma administrativa.
“Estamos colocando na mesa de discussão as isenções fiscais que, ao longo do tempo, foram dadas em nosso país. Isenções essas que não têm o mínimo de acompanhamento sobre retorno e a contrapartida que deve ser dada a quem as recebe da nossa população. É uma conta que só aumenta”, declarou.
O discurso foi positivamente repercutido entre lideranças políticas e privadas. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que enxerga com bons olhos o esforço institucional para que se enfrente a agenda de reformas. “Eu acho que a disposição que foi manifestada aqui pelo presidente da Câmara, presidente do Senado, junto com diversos ministros e com o próprio presidente Lula, de discutir e enfrentar essa agenda estrutural, eu acho isso uma ótima notícia.”
Já no setor privado, lideranças do mercado financeiro também reforçaram a seriedade de composição para o avanço das pautas. “Um modelo baseado em ajuste fiscal pelo lado da receita não funciona mais”, pontuou Isaac Sidney, presidente da Febraban, sinalizando o esgotamento de medidas arrecadatórias de curto prazo. André Esteves, chairman do BTG Pactual, reitera que a necessidade do ajuste fiscal é imperativa. “Estamos a 15 meses de eleições majoritárias – e a urna vai cobrar responsabilidade.”
Transição energética
A pauta da transição energética ganhou destaque na programação do sábado. A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, enfatizou o protagonismo do Nordeste como vetor estratégico para a matriz renovável brasileira, posicionando a região não apenas como polo nacional, mas como referência global na produção de energia limpa. “O cenário é incerto, mas o Nordeste enxerga uma grande oportunidade de crescimento. A gente tem condições de praticar a transição energética como poucos lugares. É sabido por todos que o Nordeste tem grande potencial e inclusive exporta energia”, lembrou.
Já do ponto de vista do setor fóssil, o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, alertou para os riscos de uma dicotomia artificial entre fontes energéticas em um cenário global marcado pela busca por segurança energética. “O Brasil deve evitar a armadilha do falso dilema europeu entre óleo e gás versus renováveis. Não se trata de uma escolha excludente – essas fontes precisarão coexistir por décadas”, afirmou ao defender uma transição energética pragmática e ancorada na complementaridade das matrizes.
O representante da Shell também abordou os impactos da guerra tarifária sobre o setor energético, destacando o ambiente de volatilidade e incerteza no curto prazo. “O cenário atual levanta dúvidas relevantes sobre a demanda global e os efeitos diretos da guerra tarifária no fluxo internacional de comércio”, avaliou. A análise foi endossada por Gustavo Pimenta, CEO da Vale, que ressaltou os reflexos negativos sobre o mercado de commodities: “O nível de incerteza é elevado, mas sou otimista. A Vale tem a oportunidade de ser líder no fornecimento de minerais críticos”.

Reforma política
A edição também contou com a participação do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Durante discurso, o ministro comentou o sistema de votação para a eleição de deputados federais. “O eleitor vota em quem ele quer, mas elege quem ele não sabe. Menos de 5% dos deputados são eleitos por votação própria, e a maioria é eleita por votos dados a outros candidatos. O eleitor não sabe exatamente quem ele colocou lá”, avaliou.
O presidente ainda citou um comportamento atual do eleitorado brasileiro. “A democracia tem lugar para todo mundo, mas a civilidade é um valor que vem antes da ideologia, mas que nós perdemos e temos que recuperar”, declarou.
Segurança pública
Representantes de diferentes correntes políticas falaram sobre a PEC da Segurança Pública, apresentada pelo governo ao Legislativo. Segundo o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Capitão Derrite, o texto apresentado não versa sobre os principais gargalos do País.

“A minha crítica à PEC é que ela não ataca o principal problema: a reincidência criminal. Ela acaba criando diretrizes de natureza obrigatória para governadores. Mas tenho certeza de que todos eles estão aptos para uma coordenação”, comentou.
Já o deputado federal Rubens Pereira Jr. avaliou a importância de constitucionalizar a segurança pública. “Constitucionalizar o tema é importante. Já fizemos isso com a saúde e com a educação e chegou a hora de fazer isso com a segurança pública. Quando a gente constitucionaliza, você torna a política pública perene e permanente. O Sistema Único de Segurança Pública foi criado no governo Temer, e o governo Lula viu que essa política é tão boa que acha que o tema tem que ir para a Constituição.”
Para o secretário de Governo de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, o cenário futuro se mostrou positivo: “Em segurança pública não há protagonismo, há integração. Eu acho que em 15 ou 20 anos nós vamos ter um mundo muito melhor na questão de segurança”.

Inovação na gestão pública
O prefeito do Recife, João Campos, destacou que o maior desafio para promover inovação na gestão pública reside na transformação cultural da própria máquina estatal. De acordo com ele, é essencial romper com estruturas burocráticas e apostar em instrumentos que posicionem o cidadão como protagonista das decisões governamentais, independentemente dos ciclos políticos. “A gente tem que olhar para quem de fato importa, que é o cidadão, sendo proativo para colocá-lo no centro das ações”, disse.
A secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, compartilhou sua vivência no setor público e ponderou que a inovação já está sendo endereçada. “Acho que a gente tem uma visão preconcebida do setor público. O setor público tem feito a diferença, tem inovado, vivencio isso muito fortemente. A gente tem vasos comunicantes mais do que a gente imagina.”
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