- Política
- 23.09.2022
- Redação
Ministros França, Nogueira e Queiroga debatem inovação na indústria farmacêutica no Fórum: Saúde Brasil
Os ministros Carlos França, das Relações Exteriores, Ciro Nogueira, da Casa Civil, e Marcelo Queiroga, da Saúde, e o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) participaram nesta terça (13), em Brasília, do Fórum: Saúde Brasil, seminário sobre inovação na indústria farmacêutica e políticas públicas para o setor, realizado pela Esfera Brasil.
O evento também contou com a presença do líder do governo no Senado, Eduardo Gomes (PL-TO), e com renomados profissionais da saúde nos Estados Unidos entre os palestrantes: Russell Medford, presidente do Centro para Inovação em Saúde Global, e Shelby Kutty, diretor do centro de cardiologia Taussig, do hospital da universidade John Hopkins.
França e Queiroga participaram da mesa de abertura do seminário, ao lado de Carlos Sanchez, presidente do conselho de administração do Grupo NC, detentor da farmacêutica EMS – a mediação foi de Marcello D’Angelo, diretor de relações institucionais da Band em Brasília.
Os ministros falaram sobre a importância de o Brasil passar a produzir IFA (Insumos Farmacêuticos Ativos) para o desenvolvimento e autossuficiência da indústria farmacêutica e geração de renda – atualmente, 95% dos insumos são importados, principalmente da China e da Índia.
“Inovação é aquilo que tem um poder disruptivo. E na área da saúde é o que melhora a vida das pessoas, o que reduz a ocorrência de eventos adversos graves. Quero citar como inovação o investimento na atenção primária à saúde. Foi aí que o nosso SUS fez a diferença no enfrentamento à pandemia de Covid-19”, afirmou Queiroga.
França ressaltou a importância do Brasil como um grande player global e disse que o Itamaraty tem colocado esforços na chamada diplomacia de saúde para que o país consiga ter uma soberania sanitária. Para isso, afirmou, é necessária a realocação das cadeias produtivas de valor.
Carlos Sanchez afirmou que o Brasil está pronto para avançar. “Nós temos um povo que representa o mundo todo, uma classe médica forte, universidades fortes, pesquisadores importantes – muitos deles não achando oportunidades e trabalhando lá fora. Nós precisamos dar esse passo, a indústria está madura para isso.”
Já o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, fez o encerramento do Fórum: Saúde Brasil. Ele falou do potencial que o país tem para assumir posição protagonista na economia mundial nos próximos anos e da contribuição do setor farmacêutico para isso, com milhares de empregos criados. “As portas do meu ministério estarão sempre abertas para representantes do setor”, disse.
O senador Nelsinho Trad, relator do projeto de lei que criou a bula digital, afirmou que as duas palavras-chave para desenvolver a indústria de saúde são “diálogo e cooperação”. “Essa união nos possibilita superar imensos desafios. A pandemia trouxe importantes alertas, entre eles o da necessidade de aperfeiçoamento no campo da gestão e de investimentos em tecnologia.”
Painel 1 – Precificação da Inovação de produtos
O primeiro painel do Fórum: Saúde Brasil debateu a precificação de produtos e contou com a participação de Meiruze Freitas, diretora da Anvisa, do americano Russell Medford, CEO da Covanos e presidente do Centro para Inovação em Saúde Global, e de Romilson Volotão, secretário-executivo da CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos). O pesquisador do International Vaccine Institute Gustavo Mendes foi o mediador.
Meiruze ressaltou o papel da Anvisa para que os medicamentos tenham uma precificação justa. “A Anvisa é a agência que trabalha para que as inovações cheguem à população”, disse. Ao ser questionada sobre como chegar a um preço justo, respondeu: “Mais conhecimento sobre os custos do desenvolvimento e da pesquisa e a necessidade de retroalimentar a inovação. Conciliar inovação e acesso”.
Já Medford apresentou dados sobre investimentos no setor farmacêutico dos EUA. Lá, pequenas companhias e empresas são as principais responsáveis por inovações, junto com universidades. Segundo o médico, “o grande desafio do setor é a incerteza. A incerteza das pesquisas científicas, das regulações etc.” Ele ressaltou a necessidade de trabalho conjunto entre governo e empresas para a determinação de um preço justo.
Painel 2 – A importância de investimentos em pesquisa e desenvolvimento na indústria nacional
O segundo painel do seminário tratou da importância de se investir em pesquisa na indústria farmacêutica e teve como debatedores Alex Campos, diretor da Anvisa, Antonio Carlos Palandri Chagas, professor titular e chefe do departamento de clínica médica da Faculdade de Medicina do ABC, e Thiago de Mello Moraes, diretor do departamento de Ciências da Vida e Desenvolvimento Humano e Social do Ministério da Ciência e Tecnologia. A mediação ficou por conta da infectologista Luana Araújo, do hospital Israelita Albert Einstein.
Campos, da Anvisa, disse que a cooperação entre a Academia e a indústria marcou o período da pandemia no país. “Se de um lado vimos as instituições brasileiras capazes de responder rapidamente à incorporação de tecnologias – como o Instituto Butantan e a Fiocruz, em parcerias com entidades privadas –, do outro assistimos à falta de tecnologias básicas, de EPIs, até de seringas.”
Para Moraes, a questão central em torno da inovação dentro do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações é a diminuição da dependência externa. “Precisamos ter um ecossistema fortalecido, um parque fabril que trabalhe desde a cadeia de insumos até o produto final acabado.”
O professor Chagas lembrou de um exemplo de avanço na cardiologia que foi produzido na USP de Ribeirão Preto: a descoberta da enzima de conversão da angiotensina, que foi levada a uma indústria farmacêutica e foi desenvolvida em remédios para tratamento de hipertensão e de infarto agudo do miocárdio. “Começou na Academia, foi para laboratórios na Inglaterra – também da Academia – e ganhou a indústria. Ou seja: só se faz inovação em parceria”, afirmou.
Painel 3 – A jornada da assistência farmacêutica na experiência do consumidor
O terceiro painel teve como debatedores a secretária de Saúde do Distrito Federal, Lucilene Maria Florêncio de Queiroz, o cardiologista Shelby Kutty, do hospital da universidade John Hopkins, o diretor do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, Ridauto Fernandes, e Fernando Dal Sasso de Oliveira, superintendente da unidade central de administração do IGESDF (Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal). A mediação foi da médica Luana Araújo.
Kutty disse que a indústria farmacêutica precisa ter em mente que há dois tipos de consumidores, os pacientes e os profissionais de saúde, e que é necessário entender o que cada um deles precisa. “O tratamento dado aos clientes tem de ser baseado em evidências – de modo a ganhar mais confiança”, afirmou.
Por isso, ressaltou a importância da coleta e da interpretação de dados, que exigirá muita colaboração entre a universidade e a indústria. “Porém não dá para esperar 18, 20 anos para isso. Tecnologia digital, entender os clientes, colaboração entre equipes – tudo isso existe aqui no Brasil. Só é preciso juntar isso e acelerar o processo.”
Painel 4 – Desenvolvimento produtivo com parcerias e alianças estratégicas
Andrey Vilas Boas de Freitas, subsecretário de Advocacia da Concorrência do Ministério da Economia, abriu as falas do último painel do Fórum: Saúde Brasil afirmando que a regulação não deve funcionar “como trava, mas sim como óleo”. Ela tem que ser capaz de criar os incentivos corretos, para que os agentes se sintam seguros para fazer decisões de investimento”.
Reginaldo Arcuri, presidente do Grupo FarmaBrasil, destacou que o Brasil tem hoje o que é cada vez mais importante, mas ao mesmo tempo mais raro: um conjunto de indústria de donos brasileiros. “Ter os centros de decisões no país permite que se tome decisões estratégicas que não poderiam ser tomadas de outra forma”, disse. Além disso, ele destacou que a indústria farmacêutica não tem privilégio em relação a competidores internacionais, por isso inovar é uma condição para crescerem.
Tiago Fontana, coordenador-geral de Inovação Tecnológica na Saúde do Ministério da Saúde, disse que confiança é o que aproxima os setores. “Para algumas pessoas, é natural que haja desconfiança entre setor público e setor privado. É um pensamento limitante: muitas vezes há receio, acreditando que há incompatibilidade. Quando na verdade o que temos é um conjunto muito grande de desafios e não podemos abrir mão de nenhum recurso e de nenhum personagem.”