“Vocês estão investindo em nós, e nós estamos investindo em vocês. No final do dia, é isso que queremos manter”. A fala de Mauricio Claver-Carone, enviado especial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a América Latina, sintetizou o tema central da segunda edição do Diálogos Esfera NY, realizado na noite de ontem, 12, durante a Brazil Week em Nova Iorque. Na ocasião, estiveram presentes o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas; o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta; e outros representantes do poder público.
Claver-Carone já foi funcionário do Departamento do Tesouro e do Conselho de Segurança Nacional na primeira gestão de Trump, além de ocupar a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de 2020 a 2022. Questionado sobre o que o Brasil deveria fazer a fim de receber mais investimentos dos EUA, ele pontuou que os principais obstáculos enfrentados pelo País para receber investimento estrangeiro poderiam ser resumidos em “três Cs”: câmbio, crime organizado e corrupção.
De acordo com ele, a moeda instável é apontada como o maior desafio para investidores estadunidenses. “Nós não podemos lidar com os riscos do câmbio. Nós gostamos de negociar em dólar, gostamos de países dolarizados, e não estou pedindo para [o Brasil] se dolarizar, só estou dizendo que isso é um problema”, afirmou.

Primeiro mundo
“Eu acho, obviamente, que nós percorremos um longo caminho desde os dias de [escândalo da construtora] Odebrecht e acredito que essa história foi deixada para trás. (…) O Brasil deveria ser um País de primeiro mundo, e será, se conseguir lidar com esses problemas”, acrescentou o enviado especial.
Mais cedo em sua fala, Mauricio Claver-Carone ressaltou que, embora a China tenha se tornado o maior parceiro comercial do Brasil, os EUA ainda são a “primeira e mais importante” fonte de investimento estrangeiro direto no País. Ele enfatizou também que “o nível de endividamento tem sido alto e, por isso, os problemas que a China está tendo hoje não são sustentáveis a longo prazo”.
“É por isso que essa diversificação [comercial] é tão importante. Isso não é sobre política, não é sobre ideologia. É sobre como podemos crescer juntos.”
Defender interesses
A fala seguinte foi do secretário-executivo do Ministério da Fazenda do Brasil, Dario Durigan. Ele aproveitou a oportunidade para refutar a ideia de que o governo brasileiro estaria “automaticamente” alinhado com a China, reduzindo o pensamento a uma “besteira” e destacando que o Brasil tem suas próprias prioridades a defender.
“De nossa perspectiva, nós recebemos muitos contatos da Europa, do Oriente Médio e de países fora da União Europeia, que querem nos encontrar e avançar em acordos livres conosco. E nós estamos muito abertos a isso”, garantiu Durigan. “O que nós devemos defender no Brasil é o nosso próprio interesse para o País. Seja a indústria, seja o setor agrícola ou o comércio. E nós começamos a fazer isso de uma maneira muito equilibrada”, pontuou.
Durante o evento, Durigan e Claver-Carone receberam exemplares do novo estudo publicado pelo Instituto Esfera: “Assimetrias nas relações econômicas entre Brasil e China”. A análise aprofunda o tema, explicando que ao longo dos últimos 15 anos, a China se tornou a principal parceira comercial e de investimentos do Brasil, mas a relação econômica continua sendo estruturalmente assimétrica – e arrisca fortalecer a dependência.
O Diálogos Esfera se consolida como um dos encontros bilaterais mais importantes da agenda extra-oficial do prêmio Person of the Year. O evento contou com o apoio de Governo do Estado do Rio de Janeiro, Gerdau, Oncoclínicas, iFood, Ambipar, Cedro Minerações, Smart Fit, JBS, Vale e BRB.