- Economia
- 28.11.2024
- Redação
Galípolo defende juros na dose certa como instrumento para conter inflação
Com a crescente preocupação de setores da economia com os efeitos da política fiscal na trajetória da inflação, o diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, reforçou, em encontro com nossos associados em São Paulo, a missão da autoridade monetária de perseguir a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Na conjuntura atual, isso significa manter o ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, iniciado em setembro.
Com a expectativa frustrada do mercado financeiro em relação ao pacote de corte de gastos anunciado pelo governo nesta semana e a consequente alta acentuada do dólar, analistas projetam uma taxa de juros na faixa dos 14% ao fim do ciclo de aperto, com previsão do JP Morgan de aumento de 1 ponto percentual (p.p.) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A meta de inflação para 2025 e 2026, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é de 3% ao ano, com 1,5 p.p. para mais ou para menos como margem de tolerância. A inflação do Brasil acumulada nos 12 meses encerrados em outubro atingiu 4,76%, acima do teto da meta.
“Meta de inflação não é um tema para diretor do Banco Central. Sob a ótica de qualquer empresa, é raro um funcionário que recebe qualquer tipo de meta poder rediscuti-la. Quem estabeleceu [a meta] foi o CMN. Cabe à diretoria do Banco Central colocar a taxa de juros em um patamar restritivo suficiente por um tempo necessário para alcançá-la. Por isso eu digo que se trata de um ‘não tema’”, explicou.
Mesclando a utilização de metáforas com termos técnicos e referências a economistas como Alan Blinder e Stanley Fischer para defender a autonomia do BC, Galípolo afastou qualquer possibilidade de interferência do governo em seu trabalho. Segundo ele, não cabe à autoridade monetária brigar com fatos ou se pautar por discussões ideológicas para estabelecer diretrizes, mas sim colaborar para a construção de um consenso que leve o País a um crescimento econômico sustentável.
O futuro presidente do BC, que assume o posto a partir de janeiro para um mandato de quatro anos, lembrou que, enquanto diretor de Política Monetária, suas decisões nas reuniões do Copom sempre foram tomadas de forma independente ao votar por manter, cortar ou subir juros. Atualmente, a Selic está em 11,25%, após o colegiado optar, no início de novembro, por elevar os juros em 0,50 p.p.
“O Banco Central e todo o board têm autonomia para tocar a política monetária que quiser”, afirmou em resposta à preocupação de um empresário presente. “A missão do Banco Central é externar à sociedade o que está fazendo, e o mal maior seria não agir. A inflação provoca um impacto pior do que uma eventual alta da taxa de juros”, acrescentou.
Confiança em Haddad
Questionado sobre a política fiscal e os ruídos recentes provocados pela equipe econômica junto ao mercado financeiro após o pacote de corte de gastos, Galípolo declarou, por mais de uma vez, que confia na gestão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O economista lembrou que foi secretário-executivo da pasta antes de assumir o atual cargo no BC.
“Meu papel hoje não é fazer qualquer tipo de comentário na política fiscal. Tenho convicção do empenho de Haddad em endereçar os temas econômicos. É um iconoclasta. Se ele se convence que é o certo para a sociedade, ele compra a briga e vai até o final mesmo”, defendeu. “Ele não tem problema de enfrentar vacas sagradas em que ninguém mexe.”