• 11.08.2021
  • Redação

ESG, uma questão de valor no presente – e no futuro

Há muito tempo o planeta dá indícios de que as coisas não vão bem. Para acompanhar os dados e traduzir esses alertas, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), divulga um relatório anual sobre o clima. E o deste ano, que foi divulgado nesta segunda-feira, 9, dá um recado alarmante: as mudanças recentes no clima não têm precedentes e seus efeitos negativos – inclusive econômicos – podem ser irreversíveis.

A responsabilidade desses impactos é de todos os atores da sociedade, incluindo as empresas, que vêm tentando se adequar a práticas de responsabilidade ambiental, social e de governança, representadas pela sigla em inglês ESG. Não é à toa que essas três letras têm tomado uma relevância cada vez maior nos investimentos: respeitar esses pilares é uma garantia de lucro a longo prazo. Nesta e nas próximas gerações.

Um levantamento recente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima)  mostrou que os fundos que investem em empresas com pilares ESG apresentaram  alta relevante durante o segundo semestre de 2020, mesmo durante a pandemia da Covid-19. Em julho, os fundos somavam aproximadamente R$ 540 milhões; em dezembro, esse valor subiu para R$ 818 milhões; em janeiro, ultrapassou R$ 1 bilhão. Já uma pesquisa feita pelo Valor Data, comparando os índices Ibovespa — principal índice brasileiro — e ISE — índice com as companhias que adotam a agenda ESG —, entre dezembro de 2009 e maio de 2021, mostrou que o ISE teve alta de 105,48%, enquanto o Ibovespa teve alta de 79,30%.

De acordo com Eduardo Ferreira, responsável por investimentos atrelados a mudanças climáticas no Banco Mundial, as práticas ESG chegaram para ficar, e quem não se adaptar vai se prejudicar financeiramente. Segundo ele, antes das preocupações com sustentabilidade, o mundo dos investimentos já possuía alguns critérios de exclusão, principalmente relacionados a motivos religiosos. Agora, a não aderência às práticas ESG atua como um repelente de investidores.

O termo ESG começou a ser cunhado a partir da “triple bottom line”, espécie de tripé da sustentabilidade proposto por John Elkington, precursor do movimento pró-sustentabilidade corporativa, nos anos 1990. Para ele, a preocupação das empresas deveria ir além do lucro, englobando também os âmbitos social e ambiental. “É preciso ter outras vertentes a longo prazo para se estabelecer no mercado. Não adianta só focar na economia, porque o lucro depende de um mercado funcionando, de uma sociedade com dinheiro para gastar e da não-ocorrência de acidentes ambientais”, diz Ferreira.

Foram as instituições multilaterais que passaram a impulsionar, em 2000, as práticas ESG. A partir desse estímulo, grandes empresas adotaram esses critérios. Um bom exemplo é a BlackRock, maior empresa de gestão de ativos do mundo, presidida por Larry Fink, o popular CEO que anualmente publica uma carta aberta a todos os outros CEOs do planeta. Em um desses manifestos, Fink pediu atenção às práticas ESG e, desde então, outras grandes empresas, como a brasileira XP Inc., têm aderido às práticas.

Beatriz Vergueiro, head de produtos ESG da XP, lembra que as palavras de Fink mudaram o rumo da empresa onde trabalha. “A gente tem a parte social muito forte, porque somos uma empresa de serviços. O S é um pilar muito determinante na XP. Temos estratégias de diversidade e inclusão, além de um instituto de educação financeira, que visa educar 50 mil brasileiros”, conta Beatriz. A função dela no processo é incentivar a mudança para fora da empresa. “O mercado financeiro é um canhão de dinheiro, e podemos direcionar os investimentos para que fomentem negócios que tenham impacto positivo.” Ela destaca ainda a participação dos investidores individuais nesse processo.

Contudo, de acordo com Beatriz, o ESG no Brasil ainda só aparece na região Sudeste. “Precisamos fazer o ESG chegar às preocupações de todas as empresas, porque não ter uma gestão de risco climático robusta nem uma estratégia de impacto social é ser míope”, afirma. É, portanto, papel dos investidores cobrar para que as empresas se preocupem com essas ações.

“Se você quer ter uma empresa que vai viver os próximos 15, 20 anos, precisa ter um mercado que funcione, uma sociedade igualitária, gente com dinheiro e saudável. Isso é ESG: que não só os investimentos, mas a postura da empresa auxilie na criação de um ambiente produtivo no futuro”, resume Ferreira.

 

 
 
 
 
 
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