Do diagnóstico à equidade: os desafios no combate ao câncer de mama

O Brasil precisa avançar no diagnóstico precoce e na equidade da oferta do tratamento para o câncer de mama. Esta foi a principal conclusão de técnicos, representantes do setor privado e de autoridades presentes no Diálogos Esfera: além do diagnóstico, evento realizado na Casa ParlaMento com patrocínio da Novartis.

Dados do Observatório de Oncologia apontam que o câncer de mama é o segundo mais prevalente entre mulheres, sendo hoje a principal causa de morte entre brasileiras. O evento reforçou que a agilidade no tratamento de pacientes em estágios iniciais e a diminuição das desigualdades no sistema de saúde são determinantes para aumentar as chances de sobrevida e reduzir a mortalidade da doença.

É o que defende a especialista Daniele Assad Suzuki, médica oncologista representante da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). “A gente percebe que as corporações têm ignorado muito a demora entre a solicitação até o paciente realmente receber o tratamento. A equidade não está acontecendo. A questão é que você pode estar efetivamente impactando as taxas de sobrevida e mortalidade dessas mulheres”, afirmou.

Outra face dessa esfera é a dificuldade de incorporação de inovações acadêmicas e novas tecnologias nos protocolos de tratamento. Segundo o médico Antônio Dal Pizzol, oncologista clínico da Santa Casa de Porto Alegre, é necessário adequar os padrões dos estudos acadêmicos estrangeiros para a realidade da mulher brasileira.

“Nós precisamos, à medida que essas tecnologias são incorporadas, entender como ela reverbera na nossa mulher. É interessante contar como a nossa mulher tem efeitos colaterais, padrões de uso, que vão ser muito diferentes do estudo científico de padrões europeus e americanos, a nossa mulher é diferente.”

Diagnóstico tardio

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, comentou a investida da pasta para priorizar políticas públicas voltadas para a saúde da mulher. “Saúde das mulheres é prioridade absoluta nossa. São a maioria da nossa população, a maioria das chefes de família, das trabalhadoras de saúde. E, obviamente, dentro do tema da saúde da mulher, o câncer de mama, o mais incidente.”

Ele afirma que o ministério trabalha para atacar dois pontos: “O primeiro foco é que precisa acelerar o diagnóstico. E a segunda questão é o novo protocolo de tratamento, mais eficaz para essas mulheres, sem perder de vista um ponto que é muito importante, que é a prevenção”.

Já o secretário de secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Mozart Salles, aponta que as proporções do Sistema Único de Saúde (SUS) representam dificuldades para a implementação de uma rede mais ampla de diagnósticos precoces para o câncer de mama.

“Temos desafios aqui no Brasil extremamente significativos. Temos um sistema de saúde com característica de cobertura universal, temos uma oferta de integralidade em todo o território nacional. Isso, obviamente, gera uma demanda muito grande”, comentou.

Ele aponta, contudo, que a dificuldade em promover diagnósticos precoces vai além do sistema de saúde. “Precisamos ter clareza do que nós temos. Temos um apagão no quesito diagnóstico e precisamos reverter isso”, destacou.

Judicialização

Um dos efeitos da incorporação de inovações no ramo da saúde e da dificuldade de oferta em tratamentos públicos é a judicialização excessiva de casos. De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2023, tramitam no Brasil mais de 520 mil processos sobre o direito à saúde, grande parte argumentando sobre a concessão de medicamentos, terapias, reserva de vagas e cirurgias a serem realizadas pelo SUS.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, marcou a posição da Corte sobre o fenômeno. “O Supremo permanecerá vigilante na proteção do direito fundamental à saúde. Mas sabemos que a solução para os desafios da saúde pública não virá dos tribunais, ela exige um engajamento de todos”, disse.

Redução de desigualdades

Foi consenso que é imperativa a inclusão de todos os agentes que atuam no setor de saúde para a construção de políticas melhores, desde autoridades das esferas federal, estadual e municipal, até juristas, acadêmicos, médicos e comunidade local.

A mensagem reverberou no discurso de Sylvester Feddes, presidente da Novartis. “Convido os representantes federais, estaduais e municipais. Juntos podemos construir um futuro em que toda mulher, independente de onde vier ou da sua renda, tenha uma chance justa para vencer o câncer de mama. A Novartis está pronta para trabalhar lado a lado com todos vocês, porque ‘remaquinar’ a medicina é ‘remaquinar’ as possibilidades da vida”, declarou.

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