Quem escuta erra menos

João Campos tenta ampliar o diálogo como resposta à polarização

Por Luís Filipe Pereira

Encarado como liderança estabelecida no Recife e dono de uma gestão exitosa que o projeta a todo o Nordeste, o jovem prefeito João Campos desponta como um forte candidato a protagonista do cenário político brasileiro nos próximos anos.

Fenômeno nas redes sociais, onde seus perfis contam com milhões de seguidores, Campos chegou ao posto de presidente de seu partido, o PSB, em junho, quando foi aclamado por aliados em uma cerimônia, em Brasília, que contou com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e também do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. Na ocasião, falou aos presentes que “renovar não é fazer tudo de novo” e foi aplaudido.

Em entrevista à Revista Esfera, Campos explica que a ação e a presença podem trazer as pessoas de volta à política. No Recife, por exemplo, o prefeito apostou em uma gestão aberta ao diálogo e à escuta, ouvindo diversos segmentos da sociedade para traçar prioridades em obras e projetos. A ideia parece ter funcionado: ele afirma que as últimas eleições municipais tiveram o maior resultado da história, abrangendo eleitores de todos os espectros políticos e até pessoas desinteressadas pelo tema.

Indagado sobre qual deve ser a saída para o País à política tarifária encampada por Donald Trump que prejudica frutas e pescados nacionais — há anos com mercado estabelecido nos Estados Unidos —, Campos repetiu expressões como “equilíbrio” e “altivez”. Cercado por jornalistas, após participar da primeira edição do Seminário Esfera Infra, promovido pela Esfera Brasil no Recife, entre uma e outra troca de olhar com seus interlocutores e o emaranhado de microfones e fios, também reforçou que não há precedente histórico para a situação, o que torna mais difícil a construção de uma solução.

Certamente tais palavras podem ajudar o leitor a compreender como o prefeito enxerga a política no decorrer da trajetória que já o levou ao Parlamento antes de ser eleito como mandatário da capital pernambucana. Reeleito com 78% dos votos válidos no pleito do ano passado, esteve à frente de uma aliança que contou com a participação de siglas distantes do campo da esquerda, como Republicanos e União Brasil, o que chama a atenção para a capacidade de articulação e habilidade para fazer novos aliados nos bastidores.

“Meu pai, Eduardo Campos, foi alguém que enfrentava os problemas de frente e buscava soluções concretas. Ele gostava de dizer que ‘problema não gosta de intimidade, gosta é de solução’. E meu bisavô, Miguel Arraes, sempre ensinou que ‘quem escuta erra menos’, uma lição que guio por inteira.”

Em entrevista exclusiva à Revista Esfera, João Campos traz suas opiniões sobre alguns tópicos, entre eles os desafios de participar ativamente de um ambiente político pautado pelas redes sociais e como trabalhar soluções em segurança pública localmente.

Polarização excessiva

“O Brasil precisa de diálogo e de disposição para construir consensos, mesmo entre quem pensa diferente. Quando a gente coloca os interesses do País e das pessoas acima das disputas partidárias, conseguimos encontrar pontos de convergência. É assim que se constrói pontes para superar a polarização e avançar nas soluções que a população espera.”

2026

“É preciso construir uma agenda proativa, não esperando a oposição definir o debate, mas posicionando-se com clareza sobre as prioridades reais das pessoas. Quem lidera o processo constrói empatia. E essa agenda precisa olhar para o social: saúde, educação, emprego e inclusão digital, alinhada com desenvolvimento sustentável.”

Segurança pública

“A Guarda Municipal pode contribuir quando está bem equipada, treinada e com atribuições claras. Aqui, no Recife, estamos implementando o armamento gradual da Guarda, com todas as etapas de segurança, treinamento, uso de câmeras corporais e criação de corregedoria e ouvidoria próprias. Além disso, a Prefeitura atua no cuidado com iluminação, manutenção urbana e ações preventivas, que ajudam a evitar a criminalidade. É somando forças e trabalhando junto com as demais corporações que conseguimos proteger melhor a população. Porém, é sempre bom reforçar que segurança pública é uma obrigação que cabe aos governos estaduais.”

Sucesso nas redes sociais

“Não existe fórmula mágica. É preciso ser verdadeiro e ser você mesmo. Muito do que a gente posta nasce da rotina e da agenda, com decisões tomadas na hora, com o sentimento que vem das ruas. É conhecer bem a gestão, saber o que está sendo feito e ter sensibilidade para traduzir isso na comunicação de forma simples e próxima das pessoas. É preciso pensar, produzir e falar de um jeito que se comunique de verdade com a população. Eu sempre falo — e continuo reiterando isso — que esse desempenho nas redes sociais traduz o carinho e o reconhecimento pelo nosso trabalho. Foram muitas entregas em todas as áreas desde o início da nossa primeira gestão, e continuará sendo assim.” 

Fortalecimento da política partidária

“É preciso que os partidos sejam instrumentos de transformação, com diálogo amplo, humildade para reconhecer erros e escuta ativa das demandas da população. Quem escuta erra menos, como nos ensinou Miguel Arraes. É com ação e presença que podemos trazer as pessoas de volta à política. Aqui, por exemplo, no Recife, nós fizemos uma gestão aberta ao diálogo e à escuta, ouvindo os diversos segmentos da sociedade para traçar as prioridades em obras e projetos. E a resposta veio: tivemos o maior resultado eleitoral da história na disputa pela Prefeitura, abrangendo eleitores de todos os espectros da política e até pessoas que estavam desinteressadas pelo tema.”

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